José Kozer

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Madrugada

Alguém com o forcado de madeira vai tirar do celeiro
a forragem inchada pela umidade a
forragem que estala: e os animais estão
impacientes.
Subo, as solas de meus pés cheiram a carvão vegetal
duas fôrmas azuis: deitado, escuto o mijo
sobre a palha escuto o ruído amarelo
dos insetos, embriagados: farejo
o som fresco e seco de uma flauta
incombustível, lá em cima.
Deixe-os, eles vão se reunir à mesa a Vestal lá em cima toca
em seu fio as constelações um bicho-
da-seda (lento) sela os orifícios de
sua flauta (aranhas brancas, o céu):
e ouço, os olhos de mormaço olhos
centrífugos meu senso na
noite ouço (ao redor) ao redor
a proximidade (comprovo): o vento
roça em silêncio cera ou espessura
os lençóis pendurados no varal
do pátio.
Sou de cerâmica, meu ouvido quebrado: deitado, me torno em cem (eu: no meio
de mim mesmo) tiro o terno extinto de
veludo preto que ficou na sombra
entornada do pátio (tiro) do
outro lençol por detrás de sua luz o
vestido longo de popelina (lençóis,
contíguos) nas duas cabeceiras da
mesa (primeira matéria-prima aquele
ruído, em meus olhos) os comensais.
Ela serve o leite fervido o retinir das colheres no alumínio.
Eu entro (ele) imóvel: o soco da madeira no solo duas cadeiras
de pinho o veio da madeira
com caruncho.
Um clarão, estão mortos: desço. Entre o alto e o chão uma
escada (flautas, o descenso) quando
o olhar me valerá para entender na noite o
estralejo do centeio, lugar
de origem.
Bosques violáceos a madrugada (ali estão) eu os sirvo:
a meu pai de preto a gota centesimal
de um leite fervido na cozinha dos
fundos por minha mãe, a sentinela: a
ela a ácida semelhança de mais um dia
(constato) (pão) diante do livro
de contabilidade desconjuntado
sobre a mesa.

Tradução de Josely Vianna Baptista

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