Stela do Patrocínio - Segundo Tempo















Loucura é a rentabilidade parasitária dos poderosos; sua filha dileta, a violência; seu modo de manutenção, a violência do estado. Termino o ano abraçado à voz poderosa de Stela do Patrocínio, ao movimento articulado/desarticulado do humano, o único estado que reconheço. Talvez em 1967 tenhamos nos comunicado por telepatia; ela, na Colônia Juliano Moreira, eu, no ambulatório do Pinel. Graus diversos de esquizofrenia, mas habitantes do vasto território da poesia.

* * *

Eu já fui operada várias vezes
Fiz várias operações
Sou toda operada
Operei o cérebro, principalmente


Eu pensei que ia acusar
Se eu tenho alguma coisa no cérebro
Não, acusou que eu tenho cérebro
Um aparelho que pensa bem pensado
Que pensa positivo
E que é ligado a outro que não pensa
Que não é capaz de pensar nada nem trabalhar


Eles arrancaram o que está pensando
E o que está sem pensar
E foram examinar esse aparelho de pensar e não pensar
Ligados um ao outro na minha cabeça, no meu cérebro


Estudar fora da cabeça
Funcionar em cima da mesa
Eles estudando fora da minha cabeça
Eu já estou nesse ponto de estudo, de categoria



Poema retirado do livro Reino dos bichos e dos animais é o meu nome. Organizado por Viviane Mosé. Rio de Janeiro: Azougue, 2002, p. 69.

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