Três mergulhos nas águas da poesia





Três mergulhos nas águas da poesia


Poema do nadador

      Jorge de Lima

A água é falsa, a água é boa.
Nada, nadador!
A água é mansa, a água é doida,
aqui é fria, ali é morna,
a água e fêmea.
Nada, nadador!
A água sobe, a água desce,
a água é mansa, a água é doida.
Nada, nadador!
A água te lambe, a água te abraça
a água te leva, a água te mata.
Nada, nadador!
Senão, que restara de ti, nadador?
                                 Nada, nadador.

(Antologia poética. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1978.)


Nadador

    Cecília Meireles

O que me encanta é a linha alada
das tuas espáduas, e a curva
que descreves, pássaro da água!

É a tua fina, ágil cintura,
e esse adeus da tua garganta
para cemitérios de espuma!

É a despedida, que me encanta,
quando te desprendes ao vento,
fiel à queda, rápida e branda.

E apenas por estar prevendo,
longe, na eternidade da água,
sobreviver teu movimento...

(Jogos olímpicos. In: Poesias completas de Cecília Meireles – vol. IV. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1973.)


O nadador

      Gastão Cruz

Hás-de voltar de noite evitando o
crepúsculo
que fecha ainda a casa Chegarás
ao mar
sete anos habitado pelos braços
do teu corpo cansado de nadar

No aceno alimentaste
vagas vorazes
a prisão da água é forte
porém na escuridão as mãos
não mais serão ao
alcançar a casa as mãos da morte

(A moeda do tempo e outros poemas. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2009.)

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