Hilda Hilst
Toma-me. A tua boca
de linho sobre a minha boca
Austera. Toma-me
AGORA, ANTES
Antes que a carnadura
os desfaça em sangue, antes
Da morte, amor, da
minha morte, toma-me
Crava a tua mão,
respira meu sopro, deglute
Em cadência minha
escura agonia.
Tempo do corpo este
tempo, da fome
Do de dentro. Corpo se
conhecendo, lento
Um sol de diamante
alimentando o ventre,
O leite da tua carne,
a minha
Fugidia.
E sobre nós este
tempo futuro urdindo
Urdindo a grande
teia. Sobre nós a vida
A vida se derramando.
Cíclica. Escorrendo.
Te descobres vivo sob
um jugo novo.
Te ordenas. E eu
deliquescida: amor, amor,
Antes do muro, antes
da terra, devo
Devo gritar a minha
palavra, uma encantada
Ilharga
Na cálida textura de
um rochedo. Devo gritar
Digo para mim mesma.
Mas ao teu lado me estendo
Imensa. De púrpura. De
prata. De delicadeza.
Poema do livro Júbilo, memória, noviciado da paixão.
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