Manuel Bandeira
Nova
poética
Vou lançar a teoria
do poeta sórdido.
Poeta sórdido:
Aquele em cuja poesia
há a marca suja da vida.
Vai um sujeito,
Sai um sujeito de
casa com a roupa de brim branco
[ muito bem engomada,
e na primeira esquina
[ passa um caminhão,
salpica-he o paletó
[ ou a calça de uma
nódoa de lama:
É a vida.
O poema deve ser como
a nódoa no brim:
Fazer o leitor
satisfeito de si dar o desespero.
Sei que a poesia é também
orvalho.
Mas este fica para as
menininhas, as estrelas alfas, as vir-
[ gens cem por cento
e as amadas que [
[ envelheceram sem
maldade.
19 de maio de 1949.
Poema do livro Belo belo
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