Paul Celan (1920-1970)

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Um dos meus livros prediletos é Cristal, de  (1920-1970). edição bilíngue da Iluminuras, lançada em 1999, com seleção e tradução de Claudia Cavalcanti.
Foi lendo Celan que Adorno pôde rever a descrença na possibilidade de poesia após Auschwitz: “A dor perene tem tanto direito à expressão como o torturado ao grito: por isso pode ter sido errado afirmar que não se pode escrever mais nenhum poema após Auschwitz”.
Dele extraí estes sete poemas.





















Errático  

As noites se fixam
sob teu olho. As sílabas re-
colhidas pelos lábios — belo,
silencioso círculo —
ajudam a estrela rastejante
em seu centro. A pedra,
um dia perto da fronte, abre-se aqui:
ante todos os
espalhados
sóis, alma,
estavas, no éter.


* * *

Ilegibilidade deste
mundo. Tudo em dobro.

Os fortes relógios
dão razão à hora cindida,
roucos.

Tu, presa nas tuas profundezas,
somes de ti
para sempre.


***

Nos rios ao norte do futuro
lanço e que tu
hesitante carregas
com sombras escritas por
pedras.


***

Estar, na sombra
do estigma no ar.

Para-ninguém-e-nada-estar.
Irreconhecido,
para ti
somente,

Com tudo o que lá dentro cabe,
mesmo que sem
fala.
















Quando me abandonei em ti,
eras pensamento.

algo
murmura entre nós dois:
do mundo a primeira
das últimas
asas,

em mim cresce
a pele sobre
tempestuosa
boca,

tu
não chegas
até
ti.

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