14 haicais após a meia-noite




14 haicais após a meia-noite

Uvas, maçãs murchas,
cachos de canções absurdas.
Amor e rusga.

Água na moringa,
irrigar a língua líquida
com grafias em febre.

As águas do rio
cantam para disfarçar
a vida que foge.

As sílabas voam,
lançam o poema no ar.
Sem pista de pouso.

C no céu, a Lua,
curva letra do alfabeto
entre as estrelas.

Velho passarinho
no galho mais alto. O azul,
ninho infinito.

Um sol tangerina
faca de brasas em casca
corta gomo a gomo.

Talvez amanhã,
agora, quase ou nunca,
o amor, a aurora.

Linhas retas não
geram luas, vidas, galhos.
Os ovos são curvos.

O cravo e a rosa
porfiam. Aromas farpados
ferem a poesia.

Menina com vaso
em brasa. Quem virá à noite
irrigar a flor?

Os corpos colados
nos degraus da madrugada
sacodem a lua.

No chão de abril
folhas caídas. Nos galhos
renova-se a vida.

O dorso do gato
sumiu no beco às escuras.
Escarcéu felino.




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