Muito além disso tudo
Raul Zurita |
Muito além disso tudo
Espalho palavras
de carvão e cobre
no mormaço da tarde
como velhas lavadeiras
jogam fora a água
da roupa encardida
em bacias de alumínio.
.
São de linhagem extinta,
mas posso ouvi-las,
manchadas de espanto,
invadir o azul
em voo incontrolável.
Minhas sílabas fora de catálogo,
pernas de bailarinas chinesas
fogem de mim
carregadas de contrabando e SOS.
Talvez,
num ponto cego do universo,
retornem à minha língua
só para negarem qualquer sentido.
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