Água régia

Guardo ingressos

em caixa de biscoito de nata.

Por eles meço

a altura das nuvens,

o calor do corpo,

a distância dos abismos.

Entre a data e o preço

a fluidez da memória de águas

impuras

e seus desvios para o vermelho
na cartografia dos desejos..

Às vezes tiro a roupa,

mergulho em piscinas naturais

atrás de páginas perdidas

no fundo,

ou - quem sabe? -

à procura de palavras sem espinhos,

tesouro de sentidos intocados.

Tudo o que trago, no entanto,

em minhas pálpebras inchadas

é um sistema planetário desconhecido

no centro do espanto.

E cãibras, cãibras,

muitas cãibras.