Os demônios do mar

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Mapa de Hartmann Schedel, 1493

















Os demônios do mar

Chamei os demônios do mar
para lavar o teu corpo
de algas e carne sem ar.

Vieram velozes, aos berros,
bêbados de espumas venenosas.
Trouxeram unguentos e rosas
de resina,  úmidas de infortúnio.
Lavaram tuas barbatanas brancas
com bálsamo de abismo.
Despejaram águas lutuosas
nas cicatrizes do teu ventre,
entre os três filhos impossíveis.
Secaram teu corpo com pedras
sacadas de secretas cidades submarinas.

Um demônio mais alto e hirsuto,
o hálito bem colado à tua carne morta,
ergueu pequeno frasco de  plástico.
Glauca, a última gota de licor incógnito
 derramada no lodo de teus olhos.

Estremeci vendo o movimento
de cortina rasgada em tuas pálpebras.

A horda arremessou o corpo às ondas
envolto em tecidos de escamas.
Saíram aos berros, bêbados e velozes,
entoando canções de guerra.

Chamei os demônios do mar
para lavar o teu corpo
de algas e carne sem ar.



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