Roberto Piva


Resultado de imagem para Poema vertigem, Roberto Piva


Poema vertigem


Eu sou a viagem de ácido
                nos barcos da noite
Eu sou o garoto
                que se masturba na montanha
Eu sou tecno pagão
Eu sou Reich, Ferenczi & Jung
Eu sou o Eterno Retorno
Eu sou o espaço cib ernético
Eu sou a floresta virgem
                das garotas convulsivas
Eu sou o disco-voador tatuado
Eu sou o garoto e a garota
                Casa Grande & Senzala
Eu sou a orgia com o
                garoto loiro e a sua namorada
                de vagina colorida
                (ele vestia a calcinha dela
                & dançava feito Shiva
                no meu corpo)
Eu sou o nômade do Orgônio
Eu sou a Ilha de Veludo
Eu sou a Invenção de Orfeu
Eu sou os olhos pescadores
Eu sou o Tambor do Xamã
                (& o Xamã coberto
                de peles & andróginos)
eu sou o beijo de Urânio
de Al Capone
eu sou uma metralhadora em
                estado de graça
Eu sou a pombagira do Absoluto


* * *


O século XXI me dará razão
(se tudo não explodir antes)

Baudelaire sangrou na ponte negra do Sena.
molécula procurando a brecha do
universo & suas trezentas flores
assim é a lucidez,
o swing das Fleurs du Mal.
completa tortura roendo a
realidade
&
l’immense gouffre.
todas as paixões / convulsões no
espelho. Baudelaire & ses fatigues
rumo à pálida estrela.
O século XXI me dará razão, por abandonar na linguagem & na ação a civilização cristã oriental & ocidental com sua tecnologia de extermínio & ferro velho, seus computadores de controle, sua moral, seus poetas babosos, seu câncer que-ninguém-descobre-a-causa, seus foguetes nucleares caralhudos, sua explosão demográfica, seus legumes envenenados, seu sindicato policial do crime, seus ministros gangsters, seus gangsters ministros, seus partidos de esquerda-fascistas, suas mulheres navi-escola, suas fardas vitoriosas, seus cassetes eletrônicos, sua gripe espanhola, sua ordem unida, sua epidemia suicida, seus literatos sedentários, seus leões-de-chácara da cultura, seus pró-Cuba, seus anti-Cuba, seus capachos do PC, seus bidês da direita, seus cérebros de água-choca, suas mumunhas sempiternas, suas xícaras de chá, seus manuais de estéticas, sua aldeia global, seu rebanho-que-saca, suas gaiolas, seu jardinzinhos com vidro fumê, seus sonhos paralíticos de televisão, suas cocotas, seus rios cheio de sardinha, suas preces, suas panquecas recheadas com desgosto, suas últimas esperanças, suas tripas, seu luar de agosto, seus chatos, suas cidades embalsamadas, sua tristeza, seus cretinos sorridentes, sua lepra, sua jaula, sua estrictina, seus mares de lama, seus mananciais de desespero.

Comentários