Canção de despedida

 




Quando a sombra

escapa ao corpo

e o amor se reduz

a uma comédia de erros

a caminho do esquecimento

a vida é um vento desolado

no campo minado das ausências

assim, ausentar-me de mim

é um movimento imperceptível

embora combine absurdamente

com a língua e o país ausentes

combine com o porto sem navios

sob o céu esvaziado de deuses

num tempo que anula qualquer viagem

de alguém a si mesmo

a esse terreno baldio

do qual fomos desalojados pelas leis do mercado

e por legiões de sonhos e desejos alheios

impiedosos na política de terra arrasada

no que sobrou da perdida província da intimidade

 

se de mim me afasto

por ser destituído de um dentro

também aqui fora

não encontro o centro

e só sei que ainda estou vivo

por causa da respiração abafada

daquilo que foge lentamente do corpo

numa indescritível canção de despedida

que a chuva não consegue silenciar.

 

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