Nuno Júdice
Do poeta português
Nuno Júdice.
Exercício
Pego num pedaço de
silêncio. Parto-o ao meio,
e vejo saírem de
dentro dele as palavras que
ficaram por dizer.
Umas, meto-as num frasco
com o álcool da
memória, para que se
transformem num licor
de remorso; outras,
guardo-as na cabeça
para as dizer, um dia,
a quem me perguntou o
que significavam.
Mas o silêncio de
onde as palavras saíram
volta a espalhar-se
sobre elas. Bebo o licor
do remorso; e tiro da
cabeça as outras palavras
que lá ficaram, até o
ruído desaparecer, e só
o silêncio ficar, inteiro, sem nada por dentro.
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