Bóris Pasternak

 



Um poema de Bóris Pasternak traduzido por Augusto de Campos 


Ser famoso não é bonito.

Não nos torna mais criativos.

São dispensáveis os arquivos.

Um manuscrito é só um escrito.


O fim da arte é doar somente.

Não são os louros nem as loas.

Constrange a nós, pobres pessoas,

Estar na boca de toda a gente.


Cumpre viver sem impostura.

Viver até os últimos passos.

Aprender a amar os espaços

E a ouvir o som da voz futura.


Convém deixar brancos à beira

Não do papel, mas do destino,

E nesses vãos deixar inscritos

Capítulos da vida inteira.


Apagar-se no anonimato,

Ocultando nossa passagem

Pela vida, como à paisagem

Oculta a nuvem com recato.


Alguns seguirão, passo a passo,

As pegadas do teu passar,

Porém não deves separar

Teu sucesso de teu fracasso.


Não deves renunciar a um mín-

Imo pedaço do teu ser,

Só estar vivo e permanecer

Vivo, e viver até o fim.

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