Maria Gabriela Llansol
A boa nova anunciada à natureza
18/06/2019
“A boa nova anunciada à natureza” é o escândalo que a minha época não aceita. O Ser existe como beleza, mas nós perdemo-lo e percorremos toda uma órbita excêntrica para o voltar a encontrar.
A Boa Nova dirige-se à Terra no seu todo: não só porque nesta se desenvolveram entidades irredutíveis mas também porque é no seu todo que está ameaçada.
Deixou de se formar a partir da Beleza.
A ideia de que tudo o que não é humano tem, tal como o humano, necessidade de redenção, é vital para nossa continuação aqui, ou noutro lugar.
No momento da posse, no poema de 11 de junho (poema que nunca foi encontrado) tudo participa nas diversas partes: a boca, a copa frondosa, o cogumelo, a falésia, o mar, a erva rasteira, a leve aragem, os corpos dos amantes. Os três sexos que movimentam a dança do vivo: a mulher, o homem, a paisagem.
Esta é a novidade: paisagem é o terceiro sexo.
LLANSOL, Maria Gabriela. Onde Vais, Drama-Poesia? Lisboa: Relógio D’Água, 2000. P.44
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