Alexei Bueno



 










Poema de Alexei Bueno, retirado do livro A chama inextinguível.

 

As quatro quinas do caixão

 

I

 

Como Gerstl e Sá-Carneiro,

Maiakóvski e Van Gogh

Na minha vida de grogue

Darei um tiro certeiro.

Este agora é o meu roteiro!

(Ninguém peça! Ninguém rogue!)

Pra que o tédio não me afogue

No seu branco cativeiro.

Oh! Asunción Silva, oh! Nerval!

Camilo, Iessiênin, Quental,

Kleist, Zweig... Adeus minha dor!

Como o Kafka infeliz

Peço-lhes fogo ao que eu fiz,

Mas não me ouçam, por favor.

 

II

 

Gárchin, Robert, Hemingway,

Hasenclever, Toller, Weiss,

Assim foram ver se há paz.

Se a acharam porém não sei.

Num mundo sem lei nem rei

Quem nunca pensou em tais

Saídas? Muitos! (E há mais!)

É nelas que eu seguirei...

Não como Schumann, pulando

Num rio ruim, nem errando

De mira como fez Gorki...

Mas com um veneno seguro,

Ou um tiro num quarto escuro.

Quem não quiser que se enforque!

 

III

 

Enfim, quero ver-me posto

Na mesa, na horizontal,

Liberto de todo o mal,

Salgado com o meu desgosto!

Que Kirchner me pinte o rosto,

Raimund narre o funeral

E Acuña coloque a cal

Pois Boye ornará o encosto.

Stifter fará o elogio

Com Larra, enquanto eu, bem frio,

Na mesa, feito um manjar,

Provoco as moscas ardentes

E a rir com todos os dentes

Não ouço, infestando o ar!

IV

 

Davidson, Gorky, Woolf, Fontes,

Tzvietáieva e Crevel,

Dagerman, Trakl e Deubel

Cerraram portas às frontes!

Iguais a eles, há aos montes!

Lugones, Roussel, Staël,

Weinheber, Crane, ou os que o fel

Jogou dos prédios e pontes...

Ah! negra e última ideia!

Beddoes, Gros, Pascin, Pompeia,

Reis, Pavese, József!... Enfim

Leia Durkheim quem gostar

Pois eu já vou terminar

Igual a Chatterton... Fim!

Comentários